REALIDADE E VERGONHA! APENAS 22% DOS JOVENS MAIS POBRES COMPLETARAM O ENSINO MÉDIO AOS 19 ANOS
18:50Brasília, Brasil e o mundo sem retoques!
Etapa final da educação básica deveria ser concluída aos 17 anos; entre
mais ricos, índice de conclusão sobe para 84,1%. Para especialista, escola
precisa se reinventar para atrair jovem
Permanecer na escola, quando se é pobre, é um grande desafio.
Dados compilados a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
mostram que, aos 19 anos de idade, jovens que já deveriam estar na universidade
ainda estão longe de concluir a educação básica. Especialmente os mais pobres.
Apenas 22,4% deles concluem o ensino médio nessa idade.
Entre o quinto (20%) mais rico da população, a realidade é
bastante diferente, apesar de ainda não ser a ideal: 84,1% dos jovens de 19
anos já concluíram o ensino médio. O ideal é os alunos terminassem a educação
básica com 17 anos. As desigualdades são ainda maiores quando a comparação é
feita entre as regiões brasileiras.
Na região Norte, o percentual de concluintes do ensino médio
com 19 anos assusta: é de apenas 14,3% entre os mais pobres e de 67,9% entre os
mais ricos. A região Sudeste possui os números mais altos de conclusão entre os
grupos – que são distantes entre si também: 87,2% dos jovens de 19 anos mais
ricos terminaram a etapa, contra 34,2% dos mais pobres.
“Ao analisar o direito à educação, é preciso avaliar
qualidade e equidade, sobretudo num país com a diversidade e as assimetrias
sociais do Brasil”, ressalta Carlos Eduardo Moreno Sampaio, mestre em
estatística e diretor de Estatísticas Educacionais do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em artigo publicado no
livro O Enfrentamento da Exclusão Escolar, do Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef).
O texto ressalta que entre 60% e 80% das crianças e dos
adolescentes de 4 a 17 anos que não frequentam a escola são de famílias
pertencentes aos dois primeiros quintis de renda familiar per capita: os 40%
mais pobres. “Quanto menor a renda, maior a chance de uma criança nessa faixa
etária não frequentar a escola”, diz.
Moreno acredita que programas sociais, como o Bolsa Família,
e de ampliação da permanência na escola, como Mais Educação, têm contribuído
para melhorar o cenário. “A escola tem papel central na superação desses
desafios”, define. Ele reconhece que, mesmo entre a população de maior renda, a
taxa de sucesso na progressão escolar não é adequada. “A chance de um jovem de
19 anos da região Sul ter o ensino médio concluído é pouco maior que 53%, número
muito abaixo do ideal”, comenta.
Permanência e aprendizagem
Para especialistas, os dados mostram que, para além de
colocar as crianças na escola, as redes precisam mantê-las na dentro,
aprendendo na idade correta, para que a exclusão escolar não seja tão comum
entre os jovens. De acordo com a Pnad 2012, havia 887.382 jovens de 17 anos que
não frequentavam a escola, mais 495.660 de 16 anos e 271.162 de 15 anos.
Desinteresse: Ensino médio afasta o aluno da escola
Na opinião de Moreno, os dados mostram um problema
“estrutural” da educação brasileira: “a baixa produtividade dos sistemas em
produzir concluintes na idade própria”. Aos 6 anos, a frequência escolar das
crianças é de 95,8%. Mas só 76% das crianças de 12 anos concluíram o ensino
fundamental e, aos 16 anos, apenas 65,5% terminaram essa etapa (o que deveria
ter ocorrido aos 14) e, aos 19 anos, menos da metade (49,7%) concluiu o ensino
médio.
Júlia Ribeiro, oficial do programa de Educação do Unicef,
ressalta que é importante ampliar o enfrentamento da exclusão escolar. “As
áreas de educação precisam estar articuladas à saúde e à assistência social,
por exemplo, para enfrentar o problema”, afirma. Para ela, o maior desafio é a
escola “dialogar com esse adolescente para que ele permaneça na escola”.
A secretária municipal de Educação de Saloá (PE), Josevalda
Cavalcante de Albuquerque, também defende um “ensino com significado para os jovens do ensino médio”.
Ela critica a falta de prática no apoio aos professores que lidam com essa
faixa etária. “Existem muitas formações, mas não para eles. O apoio fica no
discurso”, diz.
Atendimento noturno
As matrículas no ensino regular noturno – que poderiam
auxiliar os jovens trabalhadores, por exemplo – vêm caindo nos últimos cinco
anos. Por um lado, os especialistas dizem que esse é um bom sinal, já que não é
desejável manter adolescentes estudando no período da noite. Por outro, eles
reconhecem que o atendimento em horário alternativo ainda é necessário.
Entre 2008 e 2013, o número de matrículas no ensino médio
noturno caiu 25%. De 3.181.151 alunos em 2008, passou para 2.394.488 em 2013.
“O desejo é acabar com o ensino noturno. Os bons resultados do ensino regular
refletem no noturno. O que precisamos é trabalhar para que a educação no Brasil
seja integral”, comenta Eduardo Dechamps, secretário de Educação de Santa
Catarina.
Dados: De 4 horas diárias, alunos do ensino médio aprendem só em 1h44
“Quem dera que a gente não precisasse do ensino noturno, mas
ele ainda é a porta de entrada ou o retorno das pessoas que não tiveram oportunidade
no tempo ideal. Acho que a queda das matrículas do ensino regular à noite tem
mais a ver com a Educação de Jovens e Adultos”, comenta Cleuza Repulho,
presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
A Educação de Jovens e Adultos, o antigo supletivo, tem sido
alvo de estudantes cada vez mais jovens. Mas não tem conseguido atrair todos
que precisaria. Tanto no turno diurno quanto noturno, as matrículas caíram nos
últimos anos. Entre 2008 e 2013, a modalidade perdeu mais de 1,1 milhão de
matrículas. Só à noite, a queda foi de 22%.
“É preciso repensar o EJA em muitos municípios. Em outros
lugares, pode ser que as matrículas estejam caindo porque a taxa de
analfabetismo e a defasagem idade-série vêm diminuindo. É desejável que, ao
longo do tempo, essas matrículas diminuam, mas é preciso analisar caso a caso.
Os gestores precisam fazer busca ativa para resolver isso”, diz.
Fonte:Ultimo Segundo
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