TRÂNSITO NO BRASIL E MORTES SEM A DEVIDA PUNIÇÃO AOS CULPADOS: ATÉ QUANDO OS NÚMEROS ABSURDOS?
13:36Brasília, Brasil e o mundo sem retoques!Com um porsche em alta velocidade (116 km/h) um engenheiro matou uma advogada. E disse: “Estava nos planos de Deus”.
O Brasil é um dos
campeões mundiais em mortes no trânsito (mais de 42 mil, em 2010). Montesquieu,
Beccaria e todos os iluministas diziam, no século XVIII, que “causas de atos
indesejados” são as leis injustas assim como a existência de humanos
irracionais, supersticiosos e “não ilustrados”.
O que mais existe
no Brasil, no entanto, é gente pouco ilustrada (3/4 da população não sabem ler
ou escrever ou não entendem o que lê ou não sabem operações matemáticas mínimas
– pesquisa Inaf). As mortes no trânsito, de qualquer modo, são geradas por
todos (ilustrados ou não ilustrados).

Dirigimos depois de
beber ou em alta velocidade e atropelamos pedestres e ciclistas nos julgando
“ases no volante” e protegidos por forças superiores. A cultura da
irresponsabilidade está impregnada no nosso DNA.
Não somos treinados
para a prevenção. Não abrimos mão dos nossos prazeres (beber, falar ao celular,
correr etc.) para privilegiar nossos deveres de cidadania e convivência
coletiva. Estatisticamente, 75% dos acidentes derivam de falhas humanas
(destaque para a imprudência e o álcool). Nenhuma morte como “plano de Deus”
aparece na estatística.
O brasileiro é
pacato (dizem), salvo na direção do veículo, na violência machista, na agressão
dos pais contra as crianças, nas ofensas aos idosos, nos estádios de futebol, nas
manifestações…
O Detran de SP, por exemplo, só investe 0,05% do dinheiro de multas em
educação para o trânsito (Folha de S. Paulo de 01.08.12, p. C1).
Isso não escandaliza. Também nós não nos educamos, muitas vezes nem sequer para
a vida (do contrário, ¾ da população não seriam analfabetos ou precariamente
alfabetizados).
A conscientização,
a responsabilidade individual, a noção de cidadania e o respeito ao outro são a
solução para menos mortes no trânsito. Quem já alcançou isso? Os países adeptos
do capitalismo financeiro evoluído e distributivo (Dinamarca, Coreia do Sul,
Noruega, Japão, Canadá etc.). Colhem os bons frutos da educação universal,
têm baixíssima violência, trânsito seguro e alta qualidade de vida.
Nos países de
capitalismo financeiro selvagem e extrativista, moralmente degenerados, ao
contrário, prospera o ignorantismo e a superstição (não a responsabilidade
individual, o imperativo dos deveres e o aprimoramento ético). O homo
democraticus do século XXI, nesses países, abusa da sua vulgaridade e
irresponsabilidade.
Temos ojeriza a
obedecer às leis assim como à igualdade no trânsito. Nunca imaginamos que o
“vermelho” é “vermelho” para todos (ricos e pobres, pretos ou brancos). Na
nossa cultura hierarquizada, os membros das classes superiores (A e B) se
sentem no direito de ter privilégios frente ao sistema legal (DaMatta).
Concordamos que os
motoristas irresponsáveis sejam punidos severamente, mas não observamos as
regras de trânsito (ultrapassamos em lombadas e andamos no acostamento e na contramão).
A possibilidade de um acidente aumenta 23,2 vezes quando se digita uma
mensagem ao volante (Valor Econômico de 30.03.12, p. D8): isso é
corriqueiro e ainda trafegamos sem cinto de segurança, com luzes queimadas ou
freios não revisados.
Observar as leis no
Brasil, como se diz, é coisa de gente idiota, tola, inferior, sem relações
sociais e sem os capitais distintivos de classe (econômico, salarial, cultural,
social, emocional, moral/ético e familiar). Nós, tolos não somos; somos imbecis
(muitas vezes).
Luiz Flávio
Gomes é Jurista, professor Diretor-presidente do Instituto Avante
Brasil.
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