QUEM TEM MEDO DE EDUARDO CUNHA E SEU PODER BOMBASTICO!
19:15Brasília, Brasil e o mundo sem retoques!
De que maneira nós, os senhores neofeudais donos do poder
(financeiro e econômico), estamos encarando Eduardo Cunha? Poucos políticos
têm apetite pelo exercício do poder como ele. Não é o detentor do poder supremo
neofeudal, que nos pertence. Nós somos as classes dominantes mais poderosas e
chegamos aonde chegamos porque temos o poder de “comprar” (sempre que possível)
os mandatos dos parlamentares (financiando suas pródigas campanhas políticas).
Eduardo Cunha na estrutura geral do poder é detentor de um micropoder (como
dizia o filósofo francês Michel Foucault), mas é pertinaz e bombástico.
Acusado
por um dos delatores da Lava Jato (Júlio Camargo) de ter recebido 5 milhões de
dólares em propinas (o dinheiro teria saído das empresas Samsung e Mitsui),
redobrou seu ódio (e, assim, aumentou seu protagonismo) contra o governo
petista de Dilma assim como contra o Procurador-Geral da República (Janot).
Agora promete uma agenda bombástica para agosto e já fala abertamente no impeachmentda
presidente (presidenta) Dilma (cuja popularidade está virando um raquítico
traço). Tudo isso está sob a análise do nosso clube. Nada será decidido, a não
ser por nós mesmos.
Para se saber se Eduardo Cunha vai ou não incendiar o governo petista
assim como o país, se vai mergulhar ou não na tese do impeachment,
é preciso voltar a Foucaulte perguntar o seguinte: quem são os
verdadeiros donos do poder? Os agentes dos micropoderes ou os detentores do
poder político, atrelado ao Estado? Ou ambos? Foucault, diferentemente de
Hobbes, por exemplo, descatacteriza o Estado (no caso do
Brasil aqui entramos nós, os senhores neofeudais) como fonte única do poder
sobre os indivíduos (sobre as classes dominadas). Confere mais relevância aosmicropoderes,
que se produzem a cada instante, em todos os pontos, em todas as relações (de
pais e filhos, de médico e paciente, de chefe e subordinado,
professores-alunos, confessor-penitente, psicanalista e paciente etc.). São
muitas as instituições que nos auxiliam na tarefa de “amansar” os indivíduos,
consoante um padrão de disciplina. Isso vem desde o Iluminismo (século XVIII).
Mas a pergunta mais importante é a seguinte: é o Estado (por meio de nós, os
senhores neofeudais) que domina as massas ou são os micropoderes que fazem
isso? Para Foucault são fundamentalmente os micropoderes que dominam. De acordo
com essa teoria, portanto, Eduardo Cunha seria muito mais poderoso do que
aparenta. Mas as aparências podem enganar.
Nós, os senhores neofeudais, contestamos em parte a tese de Foucault,
que por sinal é muito criticada no mundo filosófico (cf. Jaime Osorio, El
Estado en el centro de la mundialización), porque desconsidera o poder político que
vem “do alto, de cima”, conferindo protagonismo somente para aquilo que vem de
“baixo” (das relações diárias). O poder para Foucault seria ascendente (vai
de baixo para cima), enquanto a teoria predominante (que nós seguimos) afirma o
contrário (o poder é descendente, porque começa em cima e vem para
baixo, onde muits instituições nos auxiliam nessa tarefa disciplinatória).
A questão mais relevante (para nós) na teoria de Foucault é que caberia
contra o exercício dos poderes apenas resistências isoladas (dos
alunos contra os professores, das mulheres contra o machismo, dos empregados
contra seus empregadores etc.). Pensamos que essa tese nos é extremamente útil,
porque tolhe a possibilidade de as massas se rebelarem contra as
bases da nossa formação social, que se condensam hierarquizadamente no ente
chamado Estado (dominado, aqui, por nós, os senhores neofeudais). Para a
preservação dos nossos interesses é muito conveniente que as resistências sejam
dirigidas contra os micropoderes, sem que nunca levantem os olhos
(ou tirem as vendas dos olhos) visando à transformação dos macropoderes (exercidos
por nós, os senhores neofeudais).
É importante para nossos padrões de prosperidade que não exista nada de
tangível em termos de macrodominação para se contestar (a
teoria de Foucault esvazia, atomiza, dilui e indetermina o poder do alto, de
cima). Isso nos é muito conveniente. Essa, aliás, é a técnica empregada pela
nossa tradicional aliada, que é a grandemídia: ela jamais apresenta
os problemas com a perspectiva macrossocial. A lupa da mídia é sempre
microssocial (algo tangível, concreto, determinado). A responsabilidade pelos
problemas é sempre a imediata (nunca dos verdadeiros detentores do poder, que
ficam invisíveis). Se uma escola não educa, o problema é da direção, do emprego
do dinheiro público, do gerenciamento etc. Nunca o problema chega no topo, ou
seja, nunca afeta o nosso poder neofeudalista.
A
corrupção é sempre do funcionário público e do político, não nossa, não dos
poderosos econômicos e financeiros (ou seja: dos senhores neofeudais). A
corrupção delatada contra Eduardo Cunha seria exclusivamente do Eduardo Cunha,
não de quem teria pago as propinas para ele (aliás, os nomes das empresas
corruptoras são quase sempre atomizados, diluídos, intangibilizados,
escondidos). É assim que nós, os senhores neofeudais, continuamos sendo os
donos do poder. O impeachment é assunto que nos compete. No
tempo devido decidiremos.
Um um artigo do professor Luiz Flávio Gomes
Jurista e
professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto
Avante Brasil. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a
1998) e Advogado (1999 a 2001). [ assessoria de comunicação e imprensa +55 11
991697674 [agenda de palestras e entrevistas] ]
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