LUCRO DOS BANCOS CAI COMO NUNCA ACONTECIDO EM DÉCADAS.
19:58Brasília, Brasil e o mundo sem retoques!
O aumento do desemprego combinado com juros ascendentes deve
sustentar a piora dos calotes nos grandes bancos no próximo ano, que caminha
para ser ainda mais fraco sob o ponto de vista de oferta de crédito. Além da
previsível deterioração na qualidade dos ativos, efeitos adversos de maior
tributação podem fazer com que o resultado em conjunto das maiores instituições
do País – Bradesco, Itaú Unibanco, Banco do Brasil e Santander – encolha, pela
primeira vez em décadas, e que o retorno sobre o patrimônio fique abaixo dos
tradicionais 20%.
As projeções indicam outro ano de avanço de apenas um dígito
no crédito, principalmente porque não há apetite dos brasileiros para tomar
empréstimos em um cenário de deterioração da economia brasileira e aumento do
desemprego. Os mais pessimistas apostam em estabilidade ou até mesmo
encolhimento das carteiras, com exceção das linhas de imobiliário e consignado
(com desconto em folha). Na outra ponta, financiamento de automóveis vai
continuar em queda, podendo se estabilizar apenas no final de 2017, segundo o
Goldman Sachs. Para o crédito em geral, a Federação Brasileira de Bancos
(Febraban) projeta alta nominal de 7,8% em 2015 e no próximo ano.
“O orçamento de 2016 vai carregar a expectativa de um
Produto Interno Bruto (PIB) negativo para o próximo ano. A inadimplência deve
aumentar, mas em um processo gradativo”, avaliou o presidente do Bradesco, Luiz
Carlos Trabuco Cappi, em recente conversa com a imprensa.
Até novembro, segundo dados do Banco Central, o crédito
cresceu 7,4% ante um ano, totalizando R$ 3,177 trilhões. A expectativa é de
alta de 7% neste ano, contra projeção de 9% no início de 2015. Caminha, assim,
para renovar o menor patamar de alta em mais de uma década, conforme a base
histórica do regulador. No ano passado, avançou 11,3%. Já a inadimplência,
levando em conta atrasos superiores a 90 dias, fechou o mês passado em 3,3%,
contra indicador de 3,2% em outubro e 2,8% no mesmo período do ano passado.
“Nesse ano, houve desaceleração um pouco mais rápida do
crédito, o que é normal, uma vez que a demanda em 2015 foi menor, impactada
pela postergação de decisões por parte de muitos participantes”, avaliou Murilo
Portugal, presidente da Febraban, em recente entrevista à imprensa. “Os bancos
também adotaram um cuidado adicional na hora de liberar recursos, em um esforço
de avaliar com mais cautela os riscos nas operações”, acrescentou.
A postura cautelosa para emprestar será mantida em 2016.
Depois de priorizarem os segmentos de menor risco, os grandes bancos
restringiram os empréstimos para a compra da casa própria, via elevação de
juros e exigência de maior entrada, e reforçaram a negociação de créditos em
atraso. Até mesmo os adimplentes entraram na mira, em um esforço dessas
instituições para evitar uma piora ainda mais acentuada dos calotes, uma vez
que há impacto da Lava Jato no âmbito empresarial e do ambiente macroeconômico,
que tem se refletido no orçamento das famílias.
Inadimplência
Um executivo de alto
escalão de um banco estrangeiro diz que a inadimplência em 2016 deve subir de
forma preocupante, obrigando as instituições a reforçar mais as provisões para
devedores duvidosos, as chamadas PDDs. No terceiro trimestre, um colchão
adicional de R$ 16 bilhões foi feito, aproveitando os ganhos com a majoração da
contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL). Os grandes bancos esperam que
o pico dos calotes se materialize apenas no final do próximo ano, podendo
ficar, em alguns casos, para o começo de 2017. Descartam, porém, que se
aproxime dos níveis vistos na crise de 2009.
“Vemos risco nas grandes e médias empresas que não estavam
envolvidas na primeira onda de aumento da inadimplência, no início de 2015, se
a atividade econômica não melhorar em meados de 2016”, observam Carlos Macedo,
Marcelo Cintra, Tyson Bryan e Steven Goncalves, do Goldman Sachs, em relatório
a clientes.
Isso pode afetar, conforme eles, pequenas e médias empresas
e também pessoas físicas que já enfrentam mais dificuldades para honrar seus
compromissos, criando uma nova curva na inadimplência dos bancos. Mais do que
elevar o pico dos calotes, o ciclo atual pode ultrapassar os 18 meses de outros
períodos, afetando os resultados bancários de 2016.
Lucros contidos
No cenário mais
pessimista, estimado pelo Bank of America Merril Lynch (BofA), o lucro dos
grandes bancos no próximo ano pode chegar a cair 18%, ante expectativa de
expansão ainda de dois dígitos em 2015. O Goldman Sachs projeta retração de 5%,
totalizando R$ 73 bilhões para o lucro combinado de Bradesco, Itaú, BB e
Santander. UBS e Deutsche Bank esperam desaceleração dos resultados, mas ainda
com alta de um dígito no próximo ano.
Erivelto Rodrigues, da Austin Ratings, não acredita em
redução do lucro dos bancos em 2016. A redução de despesas e o investimento em
eficiência feito nos últimos anos, segundo ele, devem possibilitar aos bancos
elevarem seus lucros em 10% no próximo exercício. “A inadimplência não vai
aumentar tanto assim Os bancos já constituíram provisões suficientes. Em 25
anos acompanhando o setor bancário, nunca vi redução de lucro e não será dessa
vez”, avaliou ele.
Do lado positivo, receitas com serviços e tarifas e o
resultado com seguros devem atenuar as más notícias do mercado de crédito.
Algum alento pode vir, segundo especialistas, das margens financeiras, visto
que o Banco Central já sinalizou que pode elevar a taxa básica de juros,
atualmente em 14,25% ao ano. Seguir com uma política monetária contracionista
pode contribuir para o alongamento do processo de reprecificação das carteiras,
efeito que pode, contudo, ser minimizado com o baixo crescimento do crédito, na
opinião do Goldman Sachs.
METRÓPOLES.COM.
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