COMO FUNCIONA O COMÉRCIO EXTERIOR DA COREIA DO NORTE?
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COMO FUNCIONA O COMÉRCIO EXTERIOR DA COREIA DO NORTE?
É sabido que a Coreia do Norte é
uma das economias mais
fechadas do mundo. Ironicamente denominada República
Popular Democrática da Coréia, o país determina desde como sua população
deve cortar os cabelos, até quando é permitido sorrir e falar alto. Um país que
considera a realização de ligações internacionais como um crime contra o estado
e que pune com sentença de morte quem é pego portando um filme americano ou
sul-coreano, surpreende quando o assunto é o comércio exterior de serviços.
A qualidade da indústria de
animação norte-coreana é uma das mais altas do mundo. Hoje, mais de 70 empresas
estrangeiras têm acordos com estúdios norte-coreanos. Mas como isso é possível?
E as sanções internacionais impostas pelo Conselho de Segurança das Nações
Unidas à Coreia do Norte?
Abastecida majoritariamente pela
China, seu principal parceiro político e comercial, a Coréia do Norte exporta
majoritariamente carvão, um ou outro produto químico, moluscos e têxteis. Mas o
que tem chamado a atenção do mundo é o profissionalismo dos norte-coreanos na
indústria de animação. A companhia estatal SEK, chegou a trabalhar
em filmes como “Pocahontas” e até mesmo “Simba, o Rei Leão”.
Segundo o Animation Career Review, os norte-coreanos ocupam a 85ª
posição no ranking dos 100 estúdios mais influentes de todos
os tempos.
Desde 1986, os estúdios de animação
norte-coreanos vêm recebendo pedidos do exterior para a produção de desenhos
animados em 2D e 3D. A estatal SEK, criada em 1957, tem mais de 1,6
mil funcionários e trabalha para vários estúdios europeus, embora não seja
possível aferir a contribuição do país com o mercado mundial, em função da
ausência de dados.
A qualidade da indústria de
animação norte-coreana combinada com os baixos custos do trabalho na Ásia,
tornam o país um destino atraente para quem quer terceirizar serviços de
animação. É possível contratar engenheiros de software experientes
por apenas alguns dólares por mês.
Vale comentar também que, na
maioria dos casos, o cliente final não sabe sobre o envolvimento norte-coreano
no processo de produção, isso porque, geralmente, a terceirização é feita com a
ajuda de um intermediário.
Muitos estúdios parceiros de Pyongyang também
preferem não falar sobre o tema – principalmente em função do embargo imposto
ao país pelos EUA, o principal destino das produções desenvolvidas na Coreia do
Norte.
No tocante ao comércio exterior de
produtos, a Coreia do Norte tampouco publica estatísticas, mas é
possível ter uma ideia do perfil do país por meio da base de dados da ONU, que
compartilha informações enviadas pelas alfândegas de todo o mundo. Os últimos
registros disponíveis são de 2015 e apontam para os seguintes cenários:
- Os intercâmbios da Coreia do Norte com o exterior
ultrapassaram os US$6,5 bilhões.
- As exportações norte-coreanas foram maiores do
que as realizadas por Malta, Senegal, Líbano, Cuba ou Afeganistão, no
mesmo período.
- A China consome 82% das exportações
norte-coreanas e é a origem de 85% dos produtos que entram na Coreia do
Norte. A dependência do gigante asiático é vital ao regime de Kim
Jong-un.
- Outros produtos norte-coreanos acabam na Índia,
Paquistão ou Angola.
Do lado das importações, Pyongyang compra
uma vasta gama de produtos: tecidos sintéticos, aparelhos de televisão,
telefones, automóveis, pneus, computadores, óleo de soja e peixe congelado estão
entre os mais procurados. Mas o que a Coreia do Norte mais precisa é petróleo.
E, depois da China, Índia, Rússia e Tailândia figuram como os principais
parceiros comerciais dos norte-coreanos.
O produto mais exportado é o carvão
(35% das vendas), quase totalmente comprado por Pequim, além de têxteis
(casacos, jaquetas, ternos, calças e camisetas de malha) para homens e
crianças. O comércio de carvão mineral chegou a atingir uma receita de US$1,075
bilhão no período. Isso dá uma ideia do impacto que o cumprimento, por parte da
China, de uma das sanções à Coreia do Norte, imposta pelo Conselho de
Segurança das Nações Unidas, que estabeleceu uma quota máxima anual para as
importações de carvão, pode causar ao país.
Outra característica do comércio
externo da Coreia do Norte é que o país arrasta um déficit crônico, ou seja, compra
muito mais do que vende. Como, há décadas, Pyongyang não pode
se financiar nos mercados internacionais por meio da emissão de títulos, muitos
se perguntam como é possível que o país continue sendo capaz de sustentar esse
desequilíbrio estrutural. Os analistas apontam para uma combinação de vários
fatores, sendo que: o investimento chinês no país, um mínimo superávit
turístico em função das visitas de cidadãos chineses, as remessas enviadas
pelos 50.000 trabalhadores norte-coreanos no exterior, a ajuda humanitária
e os empréstimos sem juros oferecidos por seus aliados, poderiam estar ajudando
o regime a compensar esse desajuste nas contas.
Além disso, a Coreia do Norte é
apontada como a nação mais corrupta do mundo, logo ao lado da Somália. Em todo
o país, menos de 3% das estradas são pavimentadas. A população norte-coreana
vive entre a fome e a miséria, com um salário médio calculado entre US$150 e
US$200 por mês, e a riqueza e o luxo, ostentados por seu líder supremo, Kim
Jong-un.
Uma dicotomia ao desempenho dos
norte-coreanos na indústria de animação, reflete-se na estimativa de que apenas
0,01% da população tenha acesso à Internet controlada. Há somente 28 sites
liberados e comprar um computador, além de extremamente caro, demanda
autorização do governo.
Do ponto de vista diplomático,
apenas 25 países mantém embaixadas na Coreia do Norte, apesar da tensão
internacional e da contínua troca de ameaças entre o presidente norte-americano
Donald Trump e o norte-coreano Kim Jong-un. Estados Unidos, Japão,
França e Coreia do Sul nunca estabeleceram relações com Pyongyang.
Isso significa que dependem das informações de outros países, como Alemanha,
Reino Unido e Suécia, para saber o que ocorre dentro da Coreia do Norte.
A rede de relacionamentos da Coreia
do Norte na Ásia, Europa, Oriente Médio e África tem sido crucial para gerar
receitas, tanto legais quanto ilícitas, e driblar as contínuas sanções
comerciais unilaterais da ONU. São muitas as alegações de que essas
embaixadas operam como fachadas para atividades ilícitas. Países europeus
que abrigam missões norte-coreanas reclamam que prédios de embaixadas têm sido
ilegalmente sublocados para negócios locais. No Paquistão, – país
tradicionalmente simpático a Pyongyang – um roubo na
residência de um diplomata norte-coreano levantou suspeitas de que ele tenha
envolvimento num grande esquema de tráfico de bebidas alcóolicas.
Fontes: BBC, Valor Econômico, The Observatory of Economic Complexity.
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