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E LÁ VEM A COPA DE NOVO! TREINADOR ARGENTINO ELOGIA TITE POR SUAS IDEIAS
21:47Brasília, Brasil e o mundo sem retoques!
"TITE PENSOU NUM ESQUEMA COM JOGADORES PERFEITOS PARA CADA
FUNÇÃO" RICARDO LA VOLPE, TÉCNICO ARGENTINO CONSIDERADO “REVOLUCIONÁRIO”.

Ricardo La Volpe, revolucionário
treinador argentino. Ele dirigiu o México na Copa de 2006 (Foto: Getty Images) Em
entrevista a ÉPOCA, o revolucionário técnico argentino colocou o Brasil, junto
de Alemanha e Espanha, como favorito para ganhar a Copa do Mundo de 2018 na
Rússia.
O México não fez exatamente uma
campanha brilhante na fase de grupos da Copa do Mundo de 2006, mas chegou às
oitavas de final com o desafio de enfrentar a Argentina, tida como favorita até
então. Quem esperava um massacre viu a seleção mexicana dominar a partida do
início ao fim. O zagueiro Rafael Marquez abriu o placar aos seis minutos do
primeiro tempo, e o atacante Crespo empatou logo em seguida. O jogo só se
desenrolou na prorrogação, quando Maxi Rodriguez empurrou a bola para dentro e
determinou a classificação da Argentina. A Copa acabava ali para o México.
Embora tenha sido eliminado antes
mesmo de chegar a uma etapa mais avançada, aquele time é lembrado pelo bom
futebol e pelas ideias consideradas revolucionárias. Uma delas é o recuo de um
volante entre os zagueiros, com o intuito de fazer a saída de bola ser mais
fluida. O idealizador daquele time foi o argentino Ricardo La Volpe. Conhecido
pelo trabalho frente a equipes argentinas e mexicanas, La Volpe é considerado
um grande teórico do futebol. Em entrevistas recentes, defendeu a exclusão de
um jogador de linha, com o argumento de que isso tornaria o jogo mais atrativo
e aberto. La Volpe falou de suas ideias em entrevista exclusiva a ÉPOCA.
Explicou como nasceu a ideia de recuar um volante entre os zagueiros,
estratégia que foi batizada com seu nome: saída lavolpiana. Fez críticas aos
trabalhos de Juan Carlos Osorio e Jorge Sampaoli, atuais técnicos
respectivamente do México e da Argentina. “Sampaoli teve pouco tempo para
trabalhar, mas acredito que não se deve pensar num sistema de jogo antes de
pensar nos jogadores”. O técnico também ponderou sobre suas lembranças do
Brasil e elogiou o trabalho de Tite na seleção brasileira.
Ricardo La Volpe. O técnico
argentino criou a saída de bola sustentada por dois zagueiros e um volante
(Foto: Getty Images)
Ricardo La Volpe. O técnico
argentino criou a saída de bola sustentada por dois zagueiros e um volante
(Foto: Getty Images)
ÉPOCA – Você é conhecido pela
expressão séria, sempre com o rosto fechado e bravo com jogadores. Essa
característica lhe rendeu o apelido de “louco” ao longo dos anos. Você se
considera um técnico fora do comum?
La Volpe – Sou um técnico que
trabalha muito no campo e exige muita disciplina dos jogadores. Para isso, é
preciso ter uma expressão mais séria. Os jornalistas no campo também me obrigam
a ser mais sério, mas os jogadores sabem que esse é o momento do trabalho.
Depois do treino, sempre converso e participo das resenhas. Considero-me um
técnico normal.
ÉPOCA – O que vem em sua mente
quando você pensa no futebol brasileiro?
La Volpe – O futebol brasileiro me
dá prazer pela técnica dos jogadores e pela forma com a qual se joga. Com
confiança e irreverência, sem medo. O Santos de Pelé jogava assim. O Palmeiras
de Luiz Felipe Scolari também, com muita garra. São as duas equipes que mais
lembro quando penso em Brasil.
ÉPOCA – Você é argentino. Assim
como no Brasil, a Argentina vive um dualismo entre os estilos de Menotti e
Bilardo. Qual você prefere?
La Volpe – Simples: Menotti.
ÉPOCA – Você era um jogador nos
anos 1970 e um técnico na década de 2010. Passaram-se 40 anos. Na sua opinião,
quais foram as evoluções táticas durante esse período?
La Volpe – A maior mudança no
futebol se deve ao aspecto físico. O jogo ficou mais dinâmico e veloz. Se
olharmos para os sistemas de jogo, são praticamente os mesmos desde a década de
1980: 4-3-3, 4-4-2, 4-2-3-1, com pequenas mudanças e alterações de acordo com
características e áreas de atuação de cada jogador. Foi na década de 1980 que
surgiu também o sistema com três zagueiros, que hoje se torna um 5-3-2 ou um
5-2-3, de acordo com ocasiões. São todos bons sistemas e todos podem dar certo,
se bem trabalhados.
ÉPOCA – Em todos os clubes, você
tenta implantar um estilo de posse de bola. Uma crítica constante a esse estilo
é de que é preciso contratar jogadores caros e com muita qualidade para o
estilo se tornar efetivo. Você acredita nisso?
La Volpe – Em primeiro lugar, todo
jogador tem técnica. Todo jogador tem uma qualidade escondida, que ainda não
foi explorada. O que é preciso dar para esse jogador é o entendimento dos
movimentos corretos para ele conseguir jogar. E também ter uma estratégia clara
para facilitar o estilo de ter a posse de bola. Penso que o passe, o chute, as
ações dentro do jogo não são separadas. A qualidade do jogador não está
desassociada do coletivo. Por isso uma estratégia para ter uma boa saída de
bola facilita muito o jogo para quem está em campo.
ÉPOCA – Uma de suas teorias mais
famosas ganhou seu nome: a saída lavolpiana. Guardiola chegou a dizer que foi
influenciado por essa estratégia, muito usada no México na Copa de 2006. Como
surgiu essa idéia?
La Volpe – Minha ideia era tornar o
jogo dos zagueiros mais seguro. A maioria dos times começa a marcação com dois
atacantes. Dessa forma, o zagueiro precisa driblar um atacante, e normalmente
eles são mais lentos e podem perder a bola com mais facilidade. Se o volante
recua e encosta no zagueiro, ele tem com quem jogar. Fica uma situação de dois
contra um, algo que dá mais confiança aos jogadores.
ÉPOCA – A teoria do “jogo de
posição” nasceu no Barcelona e prega um bom posicionamento dos jogadores no
ataque. Como você enxerga esse conceito?
O México em 2006 tinha algumas
características do chamado “jogo de posição”?
La Volpe – Para mim, o jogo de
posição é, como o nome diz, uma ideia que busca sempre estar bem posicionado. O
principal fundamento é ter o controle da partida. Estar sempre nos lugares
certos para receber a bola perto do gol. Outro fundamento é a posse de bola.
Manter a bola com seu time não dá apenas a condição de atacar muito. Você se
defende com a posse de bola porque tira ela do seu adversário.
ÉPOCA – A equipe argentina vem
passando por várias mudanças técnicas nos últimos anos. Sampaoli sempre foi um
nome de renome, mas teve pouco tempo e foi criticado por suas escolhas. Como
você avalia o trabalho de Sampaoli aqui?
La Volpe – Sampaoli teve pouco
tempo para trabalhar, mas acredito que não se deve pensar num sistema de jogo
antes de pensar nos jogadores. A Argentina tem grandes jogadores em clubes de
ponta, mas a seleção joga de uma forma complicada e diferente do que eles fazem
em seus clubes. É uma questão de não complicar muito. Se não há tempo, basta
fazer o simples. Como muitos argentinos estão em times que jogam no sistema
4-2-3-1 ou 4-4-2, Sampaoli deveria copiar esse sistema e pensar em Messi, que
sempre jogou como um meia-atacante.
ÉPOCA – Juan Carlos Osorio é o
técnico do México na Copa do Mundo, mas o senhor criticou seu trabalho pelas
diversas mudanças na escalação do time. Qual sua opinião sobre o trabalho do
técnico até aqui?
La Volpe – Acredito que Osorio faz
um bom trabalho, mas muitas vezes escala jogadores em funções que não jogam.
Isso demanda um trabalho de longo prazo, um tempo que a seleção não tem. Mesmo
assim, acredito que o México fará uma boa campanha, mesmo num grupo difícil.
ÉPOCA – O Brasil é apontado como
favorito para a Copa do Mundo. Qual sua opinião sobre o trabalho de Tite no
comando da seleção brasileira?
La Volpe – Tite mudou a mentalidade
dos jogadores, e isso foi o mais importante. A seleção brasileira ficou mais
competitiva. Sabíamos que o Brasil tem jogadores técnicos e de grande
qualidade, mas faltava essa mentalidade. Outro grande mérito de Tite foi ter
pensado num sistema com jogadores perfeitos para cada função. O Brasil joga num
4-1-4-1 onde todos sabem o que fazer. Outro bom motivo para acreditar no Brasil
é o equilíbrio defensivo. Sofrer poucos gols é fundamental para uma campanha
vencedora na Copa do Mundo.
ÉPOCA – Quais são seus favoritos
para a Copa do Mundo?
La Volpe – Acredito que três
equipes estão um passo acima: Espanha, Alemanha e Brasil. E acredito que o
futebol brasileiro é o favorito para esta Copa do Mundo.
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