JOÃO DE DEUS PASSA PRIMEIRA NOITE NA PRISÃO APÓS DENÚNCIAS DE ABUSO
SEXUAL
Por conta da sua influência e da
repercussão do caso, a defesa solicitou que o médium fique em cela separada,
para ter a integridade física preservada
Dois dias após ter a prisão
preventiva decretada pela Justiça, o médium João de Deus se entregou à polícia.
Ele se apresentou em uma área rural, numa estrada de terra, em Abadiânia,
cidade onde, desde a década de 1970, mantém trabalhos espirituais. Acusado de
abuso sexual por mais de 300 mulheres, foi levado para a cadeia, no Núcleo de
Custódia, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, região metropolitana
da capital de Goiás. Por conta da sua influência e da repercussão do caso, a
defesa solicitou que ele fique em cela separada, para preservar sua integridade
física.
O médium marcou o local e se
encontrou com os policiais, acompanhado de um de seus advogados, 24 horas após
ser considerado foragido pelo Poder Judiciário e de ter seu nome incluído na
lista de procurados da Polícia Internacional (Interpol). Chegou a gravar uma
entrevista para a TV Folha. Detido, o religioso foi levado para a Delegacia
Estadual de Investigações Criminais (Deic), onde chegou por volta das 18h de
ontem.
Entre 19h30 e 22h, ele prestou
depoimento ao delegado-geral que investiga o caso na cidade, André Fernandes. O
advogado de João de Deus, Alberto Toron, disse que o cliente refuta todas as
acusações de abuso sexual. “O senhor João nega as acusações e, com um tempo,
vamos ter certeza do que realmente aconteceu. Já externei a estranheza de fatos
ocorridos há 30 anos terem sido trazidos à tona agora, de fatos graves. Mas a
mulher voltou uma, duas ou três vezes. Tudo isso terá que ser avaliado com
muito cuidado”, disse o defensor.
O Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf) identificou movimentações financeiras de R$ 35
milhões em contas ligadas ao médium. O órgão informou o fato aos investigadores
e ao Ministério Público, o que motivou o pedido de prisão, para evitar que ele
saísse do país. O advogado do religioso afirma que ele retirou os valores de
aplicações e transferiu para contas pessoais. “O dinheiro não foi sacado. Ele
apenas baixou as aplicações. Ninguém saca R$ 30 milhões no banco. Ele baixou as
aplicações para fazer frente a necessidades dele. Isso que se reputou, que seria
um dinheiro para ele poder fugir, cai por terra quando ele se apresenta. É
importante destacar que ele estava nas cercanias de Abadiânia”, completou
Toron.
A partir de agora, a investigação
entra em uma nova fase. João de Deus será confrontado com informações
repassadas por 15 mulheres que já prestaram depoimento à Polícia Civil e outras
dezenas que fizeram denúncias contra ele no Ministério Público. O delegado
André Fernandes destaca a semelhança de detalhes entre os depoimentos das
diversas vítimas. “O que chama mais atenção é a singularidade de comportamento.
Nesses depoimentos notamos um ‘modus operandis’ comum que foi traçado por
diversas vítimas que não se conhecem”, disse.
Questionado sobre como o inquérito
pode ser embasado, tendo em vista que muitos dos crimes ocorreram há anos,
inclusive com casos de prescrição, o delegado afirmou que equipes policiais
continuam realizando diligências para a colheita de provas. “A palavra da
vítima, nesses casos, tem uma relevância muito grande. A Polícia Civil, ainda
nesta semana, formará mais provas sobre essa situação. Os depoimentos reforçam
o comportamento de abuso. Temos outras provas, que não podem ser reveladas por
questão de investigação. As vítimas dos crimes que já prescreveram prestarão
depoimento como testemunhas”, completou.
As primeiras denúncias públicas
referentes aos abusos sexuais dos quais o médium é acusado foram feitas no
programa Conversa com Bial, da TV Globo, no dia 7. No entanto, pelo menos três
investigações já corriam contra ele na Polícia Civil de Goiás. Dois inquéritos
foram abertos em 2016. Um terceiro, teve início em agosto deste ano.
As demais acusações também se
referem à prática de abuso sexual. Em uma das denúncias, ele chegou a ser
ouvido. Essas não são as primeiras acusações deste tipo contra o religioso. No
entanto, nenhuma das ações tinha avançado a ponto de levá-lo para a prisão. Em
2010, uma mulher relatou ter sofrido abuso sexual durante o “tratamento
espiritual”. No entanto, João de Deus foi considerado inocente pela Justiça,
pois a vítima sofria de síndrome do pânico, o que não a permitiria “distinguir
a fantasia da realidade”, de acordo com a decisão do magistrado da época.
"Os depoimentos reforçam o comportamento de
abuso. Temos outras provas, que não podem ser reveladas por questão de
investigação.”
André Fernandes

Com informações de Correio Braziliense-DF
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