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CIENTISTAS BRASILEIROS DESCOBREM COMO PREVENIR ALZHEIMER
16:43Brasília, Brasil e o mundo sem retoques!
CIENTISTAS BRASILEIROS DESCOBREM
COMO PREVENIR ALZHEIMER
CIENTISTAS BRASILEIROS DESCOBREM
COMO PREVENIR ALZHEIMER
A irisina, um hormônio produzido
pelos músculos quando praticamos exercícios, protege o cérebro, dizem
pesquisadores da UFRJ
Cientistas brasileiros descobriram
um caminho para prevenir e potencialmente tratar o Alzheimer, a doença
neurodegenerativa que mais avança no mundo à medida que a população envelhece e
para a qual não há cura. A chave é o exercício físico. A irisina, um hormônio
produzido pelos músculos quando praticamos exercícios, protege o cérebro e
restaura a memória afetada pela doença, revelou o estudo.
Batizada em alusão à mensageira dos
deuses, Íris, a irisina era associada apenas à queima de gordura. Mas um grupo
de cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriu que,
no cérebro, ela é importante para que os neurônios possam se comunicar e formar
memórias.
A descoberta tem duas implicações.
A primeira é que já se pode dizer que o exercício, mesmo que ainda exista muito
o que estudar, contribui para a prevenção do Alzheimer.
“Ainda não sabemos a dose certa de
exercício. Mas ele certamente é fundamental para o metabolismo do cérebro e das
doenças provenientes do desequilíbrio deste, como o Alzheimer. Temos que
caminhar, nadar, pedalar ou correr. O fundamental é se exercitar, sempre,
tornar isso parte da vida, rotina”, afirma Fernanda de Felice, uma das
coordenadoras do estudo conduzido pelos institutos de Bioquímica Médica
Leopoldo de Meis e de Biofísica Carlos Chagas Filho, ambos da UFRJ, e da
Queen’s University, no Canadá.
Possibilidade de remédios
O outro desdobramento mais distante
da pesquisa publicada numa das mais importantes revistas científicas do mundo,
a “Nature Medicine”, é a possibilidade de desenvolver medicamentos à base de
irisina ou de seus mecanismos para pessoas que estão com a doença ou que não
podem fazer exercícios, como deficientes físicos.
“O exercício, por liberar irisina,
atua duplamente: na prevenção da perda de memória e na restauração da que foi
perdida”, observa Sérgio Ferreira, que é outro autor do trabalho e professor
dos institutos de Biofísica e de Bioquímica Médica da UFRJ.
A origem do estudo está nas
pesquisas de Felice, neurocientista da UFRJ e da Queens’s University, no
Canadá, sobre a associação entre os hormônios e o Alzheimer. Há dez anos, ela
começou a obter os primeiros indícios da relação entre este tipo mais comum de
demência e o diabetes.
Os diabéticos, especialmente os do
tipo 2, têm maior risco de desenvolver a doença, causadora da resistência à
insulina, que no cérebro também está associada à comunicação entre os
neurônios. O estudo com a irisina, que também atua sobre o metabolismo
cerebral, foi um desdobramento dessas pesquisas.
O metabolismo cerebral é uma caixa
que a ciência mal começou a abrir. Dentro dela, está a chave para compreender
como o cérebro conversa o tempo todo com o restante do organismo.
“Se quisermos entender uma
doença com a complexidade do Alzheimer, precisamos compreender a integração
entre o cérebro e o corpo. O cérebro não funciona sozinho, não flutua no
vácuo”, diz Sérgio Ferreira.
O exercício funciona com um gatilho
para os músculos liberarem irisina. Ela vai para o tecido adiposo branco, a
chamada gordura ruim, e a transforma em bege, uma forma intermediária de
gordura menos nociva. A irisina é uma “maestrina” do metabolismo. Ela atua
positivamente sobre o equilíbrio de ossos e pulmões, e o grupo de brasileiros
comprovou agora que também está ativa no cérebro.
Risco para 25% dos que têm mais de
75 anos
A necessidade de desenvolver um
remédio eficiente aumenta no ritmo em que a expectativa de vida se eleva. Segundo
Ferreira, 25% das pessoas com mais 75 anos correm risco de desenvolver
Alzheimer. Esse percentual sobre para 40% para quem tem mais de 85 anos.
Esta é uma doença cruel, de
evolução lenta, terrível para o paciente e a família, destaca Ferreira, cujo
pai morreu devido ao Alzheimer. “Eu havia começado a estudar a doença quando
meu pai foi diagnosticado. Parei essa linha de pesquisa por alguns anos, mas
acabei voltando”, conta ele, que estuda o Alzheimer há 20 anos.
O trabalho só foi possível porque
Fernanda de Felice conseguiu financiamento no exterior. Após amargar quatros
sem dinheiro para a pesquisa, ela foi para o Canadá, onde conquistou um
financiamento de US$ 150 mil — o equivalente a mais de R$ 550 mil — da
Sociedade Canadense de Alzheimer. Foi a vitória do mérito, destaca ela. Apenas
três bolsas foram concedidas para 200 concorrentes de alto nível.
“Venci mesmo não sendo canadense.
Sem esse dinheiro, o trabalho não existiria, mesmo com o pagamento do Brasil a
bolsas de alunos. Essas não são pesquisas baratas. Medicina custa caro”, frisa
ela.
Sérgio Ferreira diz que a falta de
investimento no Brasil faz com que muitas descobertas não tenham
desdobramentos: “Praticamente não se faz pesquisa clínica no Brasil. Dependemos
do que vem do exterior. Isso acontece porque nunca houve apoio oficial para a
pesquisa. Ela custa caro, mas, se o Brasil quer inovar e ser independente da
área farmacêutica, deveria investir”.
Quando escreveu que uma mente sã
num corpo saudável (do latin, “mens sana in corpore sano”) era o que se deveria
desejar na vida, o poeta romano Juvenal pensava em outras coisas. Dois mil
anos depois a ciência prova que ele estava certo.
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