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HISTÓRIAS DE BRASÍLIA: JK E OS JAPONESES QUE VIERAM PARA CUIDAR DAS TERRAS DO DF.
09:43Brasília, Brasil e o mundo sem retoques!JK E OS JAPONESES QUE AJUDARAM A
MELHORAR AS TERRAS DO DF.
Quando o
monomotor decolou da pista recém-inaugurada do Aeroporto de Brasília, em maio
de 1957, o presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil
(Novacap), Israel Pinheiro, esperava que aqueles cinco japoneses elogiassem a
imensidão do horizonte avermelhado ou, pelo menos, silenciassem em
agradecimento ao passeio. Após uma hora de voo, o patriarca da família Kanegae
não resistiu: "Mas a terra é muito ruim". A resposta do engenheiro
veio com a mesma franqueza: "Se fosse boa, não precisava de
japoneses".
A passagem é
repetida nas conversas até hoje e chegou a ser encenada na minissérie JK,
exibida pela Rede Globo em 2006. O que mudou foi a pintura da paisagem.
"Quando eu olho no Google, vejo tudo colorido. É uma vista muito bonita.
Dá orgulho lembrar a história e o sofrimento de nossos pais e hoje olhar esse
solo produtivo, gerando empregos e produzindo alimentos", declara Heitor
Mitsuaki Kanegae, 52 anos, que ganhou o título de afilhado de Juscelino
Kubitschek por ser o primeiro bebê de olhos puxados a nascer nas terras da
futura capital do país, dois anos antes de sua inauguração.
Mas nem seria
necessário um satélite para enxergar isso. O trabalho paciente e a disciplina,
que começaram com cinco sobrenomes - Kanegae, Hayakawa, Ogawa, Ikeda e Ofugi -,
contagiaram as gerações seguintes e, somada a pesquisa científica que se
estabeleceu a partir dos anos 70, provocaram uma aquarela na vegetação seca e
desprezada da "vastidão desconcertante do vazio" ao longo de suas
cinco décadas.

Segundo
levantamento da Emater, o Distrito Federal alcança produtividade 226,88% acima
da média nacional no feijão irrigado; 151,48% no feijão das águas e 98,82% no
milho sequeiro/irrigado. Nas três culturas, é o primeiro colocado em rendimento
do Brasil. Entre as hortaliças, o morango alcança produtividade 87,72% maior
que no resto do país. Na batata, o índice de superioridade é de 58,14%. Ou
seja, quem confiou na utopia de JK e teve persistência agora colhe os frutos e
a rentabilidade da atividade.
Sonhadores como
Heitor, Antônio Uema ou Francisco Sobrinho. Nisseis, forasteiros e aventureiros
que aprenderam a conviver e a superar as dificuldades num lugar ermo, distante
e sem nenhuma estrutura. "Naquela época, não existia tecnologia nenhuma.
Nem calcário para corrigir o solo. A terra era tão ácida que, se você plantasse
sem melhorar, não nascia a semente. Além disso, não existiam máquinas. Era tudo
na base da picareta, do enxadão e do burro", recorda Uema. Convidados a
cultivar as terras que abasteceriam de hortaliças os candangos construtores e
depois a Capital, os agricultores nipônicos vieram de Goiânia com suas proles
para o meio do nada. Sagaz, o presidente mineiro sabia da tradição e das
inovações que os imigrantes já demonstravam em São Paulo e Goiás na hora de
selecionar os vizinhos e os precursores do cinturão verde de Brasília -
programado para se estender pelas áreas de Riacho Fundo, Núcleo Bandeirante,
Vargem Bonita, Taguatinga, Brazlândia e Taquara, regiões administrativas que
contornam Brasília. Mal imaginava ele que 50 anos seriam capazes de gerar
tamanho progresso.
Centenas de
agricultores se estabeleceram no Distrito Federal como fornecedores de frutas,
verduras e flores para os brasilienses
Tamanha coragem
mereceria algum reconhecimento, ainda mais depois que a primeira colheita dos
Kanegae havia sido enviada para degustação do presidente. A retribuição de JK
foi batizar o bebê nascido no dia 5 de janeiro de 1958. Com a simplicidade que
lhe era natural, o presidente deu colo ao robusto menino e comeu churrasco e
sushi ao lado do príncipe do Japão, Mikasa, sob a sombra de um
angico-do-cerrado.
Mesmo sem uma
convivência próxima ao "padrinho" - falecido em um acidente
automobilístico em 1976 -, o título lhe rende frequentes convites para
entrevistas e notoriedade por fazer parte da história de Brasília. A lembrança
mais recente com os herdeiros presidenciais é uma foto da neta de JK, Anna
Christina Kubitschek Bárbara Pereira, com o marido e ex-governador do DF, Paulo
Octavio, na parede da sala de jantar da chácara, em Riacho Fundo. Ironia do
destino, a imagem é vizinha das fotos em preto e branco do avô da moça.
"Depois que ele faleceu, a gente ainda tinha bastante contato com a Dona
Sarah. Ser afilhado de JK é um legado muito grande. Sempre estou participando
da história de Brasília", reconhece.
http://revistagloborural.globo.com
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